terça-feira, 30 de novembro de 2010


Nunca tive como alternativa as brincadeiras de crianças. Logo cedo fui obrigada a conhecer a essência da vida e seu sabor amargo. Às vezes vinha à minha direção uma luz, que invadia meus olhos e projetava a meu ver sonhos, mas que se desfaziam e não podiam ser guardados em uma caixinha.
Sou a filha da empregada, que mau sabe ler. A menina que saiu do esgoto e tinha medo que as tempestades me afogassem. A donzela que em meio a armas de destruição e drogas suicidas escolheu viajar tendo como transporte e companhia livros.
Quero junto a mim uma prostituta, um advogado com sua mulher que acabou de sair do manicômio, uma universitária e um homossexual. É sou a garotinha de baixo QI. Sabe o que eu quero e o que procuro? Quero apenas viver – com independência e qualidade de vida - e procuro quem tenha experiência suficiente para me ensinar a pescar.
Se quiserem conhecer a minha casa, me procurem na rua, pois não tenho um lar, não tenho um endereço e não recebo correspondências. Apenas vivo em um mundo doente.

Juliane S. Rocha

sexta-feira, 8 de outubro de 2010


Talvez não tenha superado meus erros e o passado esteja aqui para me corroer. Não enxergo o erro que me trouxe a essa situação, sei que não é tarde para procurá-lo, mas tenho medo de encará-lo. Não quero vê-lo. Não sei se posso justificá-lo, concertá-lo e essa idéia me paralisa aqui.
Há dois dias as pessoas me perguntam o que está acontecendo e não sei responde-lhes. Estou perdida em mim. Nada do que fazia sentido ontem faz hoje, sem fazer o menor sentido para mim. Como posso explicar para alguém? Não há como esclarecer. E não quero responder e conhecer resposta alguma, apenas estar trancada em mim sem ter o que pensar. Mas minha consciência não parece querer me corresponder.
Quero muito estar com pessoas que estão distantes, os velhos amigos em tudo podia se falar. Todos ao meu redor dizem tanto de coisas certas e erradas, do que se pode ou não se fazer, que agora acredito. Meus conceitos não se distinguem. A dúvida me condena e só me resta uma folha de papel.

Juliane S. Rocha


Minhas intenções não eram e não estavam aqui comigo. Apenas procuravam respostas pelo chão. Meu perfume te trazia para o meu corpo, mas sabe o que eu gostaria? Que penetrasse minha alma, que encontrasse meu esconderijo. Esteve em mim, me encontrou. Onde foi que se perdeu? Tinha o poder de me libertar, era você minha salvação, pois não tinha forças para submergir.
Nada em mim demonstrava alguma expressão. Tudo o que sentia era dor. Apenas uma lágrima se formou foi aquela que fez explodir como uma bomba radioativa, que matava tudo o que encontrava, sentimentos traduzidos apenas em lágrimas silenciosas que não podia ver, pois estava tudo sem a presença de luz a nosso ver.
Sinto-me destinada as piores condições humanas, humilhada, banalizada e sem valor. Mas não há problemas, pois no perfeito e no melhor sempre há erros e decepções, enquanto o para sempre, sempre acaba. Me leva para casa? Preciso fecha uma porta.

Juliane S. Rocha

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010


Por quê?
A interrogação me persegue, e as dúvidas se escalam e seguem constantemente sem fim. Tenho uma vida, mas não seu guidão. Não a posso guiar.
Por que afinal estou aqui?
Sou um brinquedo?
Risadas altas me entorpecem, e me chamam de louco, mas ninguém poderia compreender a tristeza que me afligia.
Eles diziam: - Sente-se!
E de repente:
-Levante- se.
Estou pensando será que posso mi revoltar?
Entre eles enquanto conversavam: - Ele sempre foi tão calmo.
O domesticaram cedo.
Me questionava, o que é certo?
Apenas escutavas suas vozes: - Siga minhas ordens. Apague a luz!
Ainda em pensamentos ... O que virei, quem eu era?
Ele não precisava saber.
-Será que eu posso decidir quem sou?
Ele queria saber o que era.
Gargalhadas e gritos de terror extasiavam tudo dentro de mim.
De repente escutei “Boa Noite!”
Pensava que admirável, ainda me viam?
Me impressiono quando dizem “vamos?”.
Será que posso mesmo escolher?
A voz continuava: -Apague a luz![...]
Ainda procuro acender a luz que apaguei naquela noite.
Mas estou tentando mi lembrar para que serve. Já não mi recordo, agora que tenho liberdade para procurar.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Rainha Consorte


Os sentimentos relacionados à desconfiança, preocupação e insegurança, o entregou a dúvida em um questionamento que corroia. O levou a uma espécie do jogo viciado em respostas. Tinha como objetivo arrancar de seu ser a sensação de um corpo pequeníssimo, e fazer-lo acreditar que poderia ser poderoso e admirável.
A lembrança do sofrimento não o deixava acreditar na realidade melhor que vivia. Procurar a perfeição o transformava em um ser não realizado. Ele construía a consciência do erro sem cometer qualquer inflação. Lembrava-se claramente das coisas que aconteciam, mas necessitava de uma cópia fiel para acreditar no que viveu.
Sua cabeça estava presa a um nó que mostrava aparências enganosas, e o fazia duvidar de tudo. Fechava e abria os olhos tentando acreditar que não estava dormindo. Meditava e sempre procurava as respostas conforme a razão. Relacionava uma coisa à outra, nada fazia compreender o que se passava. Por que tinha o que durante anos desejou? O que o fez melhor diante dos outros que ansiavam o mesmo desejo? Eram perguntas que o transtornava.
Seus sentidos estavam descontrolados. Ele se perdia em seu coração seguindo um compromisso enigmático, que revirava seus sentimentos. Queria apenas evitar feridas que não se cicatrizariam. Gostaria de entendê-la. Dizia: “No final eu quero apenas te amar [...]”.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Jardim Mágico


A hostilidade do lugar trazia para a mulher a impressão do abandono, e angustiada chorava sem compreender. Sua voz solitária antes de dormir, sempre suplicava por algo melhor, mas essa sensação sempre dominava a situação, aprendeu a se acostumar àquela vida.
Um dia quando acordou em seu casarão cinzento. O canto baixinho que ouvia, escondeu seu olhar frio, e uma nova afeição invadiu seu rosto. Os frouxos raios que iluminavam o lugar deram-lhe um caminho diferente. Tinha a sensação do nascimento.
O brilho da luz que invadia o lugar cada vez ficava maior. Iluminou a porta, invadida por uma criança, que falava alto chamando pela mãe. Entregou-lhe uma flor, e seu olfato foi embriagado pela fragrância do reflorescimento. O que lhe trouxe vagas lembranças de sua infância, quando brincava nos jardins e desejava um em sua casa.
Com inocência a criança se aproximou da janela, e apontou para os pássaros que catavam mostrando a mãe. Em passos leves instintivamente ela buscou por um quadro perfeito, após encontrar sua janela. Porém para ela o vidro não tinha mais sua transparência, e não podia ver o jardim florescido (quebrou se o encantamento). Acabará de perder a alegria da primavera, ainda sem lembrar o que perdeu reagiu com indiferença. Tudo permanecia belo como em sua infância, mas a procura constante pelo novo congelou suas sensações em um inverno pessoal.

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